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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Brasil - um relato de tortura


Documentário Brasil - um relato de tortura é exibido pela primeira vez no país 40 anos depois de ser filmado. Longa foi filmado em 1971, no Chile, no momento em que Salvador Allende tinha acabado de ser eleito, e traz relatos de brasileiros torturados na ditadura. A pergunta que se faz é: porque estas denúncias não foram exibidas antes? Afinal, já se vão 33 anos da chamada anistia.
O Brasil estava sendo governado por uma ditadura militar desde o golpe de 1964 e os presos políticos enchiam as prisões. Em janeiro de 1971,  setenta (70) presos são libertados em troca do embaixador suíço capturado pelos revolucionários resistentes. Juntos, os 70 são enviados para Santiago do Chile, onde este filme foi feito.
Os assinantes do Canal Brasil tiveram a oportunidade de assistir com exclusividade o documentário Brasil - um relato de tortura na última segunda-feira 6 de agosto, à 0h15. Essa foi a primeira exibição do longa no país, 40 anos depois de filmado durante a ditadura militar, um dos períodos mais turbulentos e sombrios da nossa história.
De qualquer forma, é de se perguntar porque demorou tanto tempo a ser exibido no pais, mesmo depois de 33 anos de ser promulgada a lei de anistia? Isto evidencia ainda, sem sombra de dúvidas, esta prática horripilante e desumana da tortura nas delegacias e prisões do pais, que não querem ver estas denúncias serem feitas e apuradas, onde a ditadura militar e civil continua existindo e oprimindo.

 
O filme dirigido por Haskell Wexler e Saul Landau, é composto por fortes e raras imagens captadas em 1971, no Chile, quando os cineatas americanos estavam no país para filmar com o então presidente Salvador Allende e souberam da presença dos brasileiros exilados. Como sugere o título, Brasil - um relato de tortura é um registro de depoimentos de brasileiros que revelam em suas falas, detalhes do horror vivenciado nos porões do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), no DOI-CODI e na OBAN.
O ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) Jean Marc van der Weid, a irmã do ex-ministro extraordinário de assuntos estratégicos Mangabeira Unger Nancy Mangabeira Unger, e o frade católico Frei Tito, são alguns dos personagens que foram ouvidos no filme. A sessão será antecedida por uma entrevista feita pelo jornalista e crítico de cinema Carlos Alberto Mattos com o produtor e cineasta Jom Tob Azulay.

Confira um trecho do documentário Brasil - um relato de tortura

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SEMANA DA ANISTIA NA UPE

Integrando um conjunto de ações que marcam a Semana da Anistia em Pernambuco, o NDIS convida para a mesa de debates:

Edival Caja (Comitê da Verdade)
Thiago Santos (Centro Cultural Manuel Lisboa)
Maria Lana Monteiro (UPE Garanhuns/ NDIS)
Nádia Novena (UPE ESEF/ NDIS)
Susan Lewis (UPE Nazaré da Mata/ NDIS)

Data: 27 de agosto de 2012
Local: Sala dos Conselhos. Gabinete do Reitor.
Av. Agamenon Magalhães, s/n. Santo Amaro
Horário: 14 às 17h
 
Contamos com a divulgação e a presença de todos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Universidade e Mercado

 "Formar para o mercado", conceito morimbundo. Com este título, temos uma importante reflexão sobre o papel da universidade nos dias atuais.



 A partir de um encontro de professores de cinema, Cézar Migliorin, no Polis+Arte,  destaca que num mundo em que já não há separação entre trabalho e vida, a universidade só terá sentido se contribuir para inventar novas formas de intervenção na sociedade. 
Confira o texto na íntegra.




quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Pesquisa sonda papel da ditadura brasileira nos golpes latino-americanos


Às vésperas da Semana da Anistia, compatilhamos o texto abaixo, que contribui para nos situarmos diante das verdades que estão vindo à tona.

Disponível em:
Ditadura braisleira e golpes latino-americanos

 Historiador sugere, com base em documentos secretos, que governos militares podem ter sido espécie de braço de Washington contra governos democráticos da região

No Opera Mundi
O Brasil pode ter tido um papel mais importante que os EUA nas ditaduras latino-americanas, embora a articulação estreita entre Brasília e Washington para perseguir militantes de esquerda nos anos 60 e 70 seja ainda quase desconhecida para a história oficial.
A missão de desvendar os meandros dessa cooperação e o verdadeiro papel que militares e civis brasileiros desempenharam em ditaduras como as do Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia caberá à recém-instaurada Comissão da Verdade, diz o pesquisador norte-americano Peter Kornbluh em entrevista ao Opera Mundi.
Segundo Kornbluh – que esteve em maio em Brasília para reunir-se com membros da Comissão –, existem papéis ultrassecretos que provam que o Brasil exportou técnicas de tortura para os países vizinhos, além de fornecer respaldo político, ajuda financeira e suporte material para ditadores militares da região.
“Nós sabemos, por exemplo, que o presidente (brasileiro Emílio Garrastazu) Médici e o presidente (dos EUA Richard) Nixon mantiveram um canal de comunicação ultrassecreto sobre a intervenção brasileira no Chile e, possivelmente, em outros países do Cone Sul no início dos anos 70”, diz Kornbluh, que é diretor dos Arquivos da Segurança Nacional. A organização de Washington, fundada em 1985, é especializada no requerimento, interpretação e publicação de documentos secretos norte-americanos liberados para consulta pública sobre os golpes na América Latina.
Documentos secretos obtidos pela organização de Kornbluh em agosto de 2009 revelam a cooperação estreita entre Nixon e Médici. Num dos memorandos revelados, o presidente norte-americano diz a seu colega brasileiro: “espero que possamos ter uma colaboração estreita, uma vez que há muitas coisas que o Brasil pode fazer, como país sul-americano, e nós, dos EUA, não podemos. A relação entre ambos era tão importante, diz a análise feita na época pela National Secutiry Archives, que ambos estabeleceram um canal privilegiado de contato, “como forma de manter a comunicação direta sem usar os canais diplomáticos formais”.
Médici tinha como canal seu assessor direto, o chanceler Gibson Barbosa, mas “para assuntos extremamente privados e delicados”, indicou o coronel Manso Netto. Do lado norte-americano, o contato era Henry Kissinger, conselheiro e confidente de Nixon. Toda a comunicação estabelecida por meio desse canal secreto permanece desconhecida.
Kornbluh começou a lidar com arquivos secretos na década de 60, quando investigou papéis do governo norte-americano sobre a crise dos mísseis em Cuba. Na época, a então União Soviética transportou para a ilha mísseis capazes de alcançar o território dos EUA em plena Guerra Fria. Kornbluh também mergulhou em arquivos do episódio que ficou conhecido como Irã Contras quando, em 1986, durante o mandato do então presidente Ronal Regan, figurões da CIA foram flagrados traficando armas para o Teerã, mesmo com o regime sob embargo. Ele publicou dois livros sobre o tema, além de um terceiro, mais tarde, sobre a ditadura no Chile, que recebeu do jornal americano Los Angeles Times a classificação de “livro do ano” de 1998.

Semana de Arte Moderna: 90 Anos

Semana de Arte Moderna: 90 Anos

http://www.br.modernismebresilien90ans.fr/wp-content/uploads/2012/05/SEMAINE-ART-MODERNE-90-ANS1.png
Agende-se!

Colóquio Internacional 90 anos do Modernismo Brasileiro foi idealizado pelos estudantes membros da Associação dos Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França (APEB-FR). O evento ocorrerá no Teatro Lúcio Costa da Maison du Brésil, na Cité Internationale Universitaire de Paris, dias 25 e 26 de outubro e terá transmissão online com intervenções em portugês e francês.

No link acima, é possível encontrar maiores informações e interessante material sobre o tema

domingo, 12 de agosto de 2012

A inclusão e o trator

12/08/2012 - 08h00
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

"Um governo em que a mão direita e a mão esquerda não parecem pertencer a um mesmo corpo". Assim a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha define o governo Dilma Rousseff: a gestão tem uma "face boa", que promove inclusão social, e outra "desenvolvimentista", que "não se importa em atropelar direitos fundamentais e convenções internacionais".
Pioneira na discussão contemporânea da questão indígena e liderança no debate ambiental, Manuela, 69, acha o novo Código Florestal "um tiro no pé": "A proteção ambiental é crucial para a sustentabilidade do agronegócio".

Leticia Moreira - 20.out.09/Folhapress
Retrato da antropologa e professora na Univesidade de Chicago Manuela Carneiro da Cunha
Retrato da antropologa e professora na Univesidade de Chicago Manuela Carneiro da Cunha
A professora emérita da Universidade de Chicago está relançando seu clássico de 1985, "Negros, Estrangeiros: Os Escravos Libertos e Sua Volta à África" [Companhia das Letras, 272 págs., R$ 49], sobre escravidão e liberdade no Atlântico Sul.
Nesta entrevista, concedida por e-mail, ela constata vestígios de realidade escravocrata no Brasil de hoje: "Olhe com atenção cenas de rua. São muitas as que parecem saídas de fotografias dos anos 1870 ou até de aquarelas de Debret, da década de 1820".

Confira a entrevista no link acima ou clicando no título em destaque.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

V Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco

A V Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco está inserida nas comemorações dos 30 anos do título de Patrimônio Cultural da Humanidade de Olinda, Acesse os links abaixo para visualizar a programação e a ficha de inscrição. Para se inscrever, após visualizar a ficha de inscrição salve o arquivo da ficha clicando em  'arquivo' e em seguida em 'fazer download'. Pronto, com a ficha salva em seu computador, preencha com seus dados e envie para o e-mail: semanapatrimonio@gmail.com

Concurso Cehibra Fonte da Memória

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Curso de Ciências Sociais: vestibular aberto

Comunicamos, com grande satisfação, que a UPE está oferecendo, a partir de 2013, o curso de Graduação em Licenciatura em Ciências Sociais.
Trata-se de uma graduação que forma profissionais para atuação na área da educação formal e não-formal, voltada para as questões sociais, contemplando a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política. 
As inscrições para o vestibular já estão abertas e solicitamos ampla divulgação  nas suas redes.

sábado, 4 de agosto de 2012

Por que o futebol-negócio quer proibir as torcidas



Em tempos de euforia, uma boa reflexão sobre o futebol e a sociedade.
No endereço abaixo (ou clicando no título acima), você encontra esta e outras matérias sobre o tema:
http://www.outraspalavras.net/2012/04/01/por-que-o-futebol-negocio-quer-proibir-as-torcidas/
 

Por trás do “combate à violência” há tentativa de elitizar estádios, afastando torcedores pobre – os novos “indesejáveis”
Por Irlan Simões*, em Futebol além da mercadoria

Foi logo na tarde da segunda-feira, 26/3. A Federação Paulista de Futebol (FPF) lançou a Resolução 66/2012, proibindo a entrada de duas torcidas organizadas nos estádios. Mais precisamente a Gaviões da Fiel, ligada ao Corinthians e a Mancha Alviverde, do Palmeiras.
A motivação foi o confronto entre integrantes das duas torcidas, ocorrido às 10h da véspera, dia em que acontecera o maior clássico paulista. A confusão causou a morte, até o momento, de dois integrantes da Mancha Alviverde. André Alves Lezo, de 21 anos, faleceu ainda no domingo, ao ser atingido por um tiro na cabeça. Na terça-feira foi confirmada a morte cerebral de Guilherme Vinicius Jovanelli Moreira, de 19 anos.
Alguns meios de comunicação afirmaram que os assassinatos são decorrentes de um ato de vingança pela morte do integrante da Gaviões da Fiel, Douglas Karim Silva, em 29 de Agosto de 2011.
Retomemos os parágrafos anteriores, nos são apontados dia, horário, local e motivação do confronto. A partir deles, façamos uma análise do que significou o ocorrido, no contexto geral do futebol.
O domingo, 25 de março, era marcado por um dos maiores clássicos do futebol brasileiro, Corinthians x Palmeiras, valendo a liderança do campeonato paulista. Contaria, obviamente, com a presença de duas das maiores e mais agressivas torcidas organizadas do país. Rivais históricos há muitos anos, é claro que estariam mobilizados e fardados para a ocasião.
A “Batalha da Inajar de Souza” aconteceu às 10h da manhã. Cerca de seis horas antes do horário oficial do jogo, quando nem o aparato técnico da Rede Globo devia estar presente no estádio.
A avenida Inajar de Souza fica na Zona Norte de São Paulo, a 13 km do palco do clássico, o Pacaembu. Um local distante o suficiente do estádio para que não houvesse concentração de torcedores a pé. Mesmo assim, é local recorrente de confrontos entre os grupos, conhecido da Policia Militar, informado há bom tempo pelas próprias lideranças das torcidas organizadas.
Conflito entre “organizadas” independe dos jogos.
Brigas não são casuais, mas confrontos combinados,
tratados como evento histórico pelos integrantes das torcidas
A motivação da briga foi uma retaliação já escancarada em todas as redes sociais. Basta pesquisar um pouco para encontrar citações sobre a possibilidade do confronto, ressaltando inclusive o sentimento de vingança por parte dos integrantes da Gaviões da Fiel. No último confronto, marcado na própria internet, os corintianos alegam que os torcedores rivais não seguiram as “regras” esperadas para os conflitos, matando um adversário.
Diante dos elementos expostos acima, o que é possível concluir? Que o conflito entre torcidas organizadas independe dos jogos. As brigas não são casuais, nem obra da insanidade desses jovens que se prestam a se agredir em plena luz do dia. São confrontos combinados, tratados como evento histórico pelos integrantes das torcidas organizadas.
Estas, por sua vez, não possuem uma estrutura organizativa que lhes permita planejar tais enfrentamentos, nem centralizar ou controlar a ação dos seus integrantes. São formadas por núcleos descentralizados e sem hierarquia, que podem articular suas ações independentes do que avaliam os dirigentes do grupo.
Os confrontos físicos são desejados por parte desses integrantes. É uma atividade que lhes dá ânimo e prazer. Viajam centenas, às vezes milhares de quilômetros para outras cidades, uniformizados, esperando uma torcida adversária buscar confusão.
Se isso é certo ou errado, cabe a cada um escolher. A realidade é que não é um problema de fácil solução, nem qualquer medida punitiva que vai acabar com as torcidas organizadas. Ou, pelo menos, com seus integrantes violentos. Inclusive pela pluralidade dos setores envolvidos nesses grupos mais violentos.
É isso que nos permite afirmar, sobre a imprensa esportiva brasileira: ou lhe falta clareza sobre o funcionamento das torcidas organizadas, ou não tem honestidade intelectual e disposição para investigar as relações promíscuas entre o futebol e certos interesses privados. A segunda hipótese parece mais provável.
A FPF sustenta que puniu Gaviões e Mancha Verde com base no Estatuto do Torcedor, uma lei que sofre críticas generalizadas tanto por parte das torcidas quando dos movimentos que querem resgatar o futebol. Ele eliminou diversos direitos dos que assistem às partidas nos estádios, e não impede, por exemplo, que os preços dos ingressos sejam cada vez mais proibitivos – nem que as antigas áreas populares tenham sido suprimidas. Nos últimos anos, mesmo pagando cada vez mais caro para poder assistir ao seu time de coração, os brasileiros foram confrontados com uma sequencia de ataques à sua cultura torcedora.
 Viabilização do modelo inclui restringir torcedor “indesejado”.
No Rio de Janeiro, polícia instrui as empresas de ônibus
a diminuir suas frotas, em dias de jogos
Entre elas, estão a restrição do uso de faixas e bandeiras com mensagens de qualquer ordem; a proibição ao consumo de bebidas alcoólicas; o cadastramento obrigatório de torcedores e até a obrigação de assistir ao jogo sentado.
A situação só piora quando a FPF declara que reagiu a um pedido da Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Essa informação ganha contornos de uma grande piada, quando analisamos qual a origem dessa concepção de “segurança nos estádios”.
A política de segurança para grandes jogos, criada pela Polícia Militar e pelos órgãos do Estado que incidem sobre futebol, foi construída nas últimas décadas com o apoio da grande mídia e da cartolagem. As medidas tomadas e as regras criadas coincidem com o que prega a cartilha de um certo programa político para o “futebol” em todo o mundo.
Trata-se de mercantilizar cada vez mais o esporte, estabelecendo a lógica de “consumo do espetáculo”. Os clubes passam a potencializar suas fontes de renda, a se rentabilizar de forma agressiva. Isso inclui o aumento do valor dos ingressos, numa perspectiva totalmente equivocada dadas as condições sócio-econômicas do país.
Os estádios vão se convertendo gradativamente em centros de consumo, verdadeiros shoppings centers, elitizados e higienizados. A busca do “público ideal” também sofre mudanças.
A viabilização desse modelo exige das federações, dos clubes e do Estado diversas medidas de restrição da entrada de torcedores “indesejados”. O caráter anti-popular de algumas destas regras é escancarado. No Rio de Janeiro, o Grupo Especial de Policiamento nos Estádios (GEPE) instrui as empresas de ônibus a diminuir, em dias de jogos, suas frotas, nas regiões próximas a estádios.
A implantação deste já está muito avançada em países da Europa e revela o possível futuro do futebol brasileiro, caso não haja resistência: público assistente composto majoritariamente pela alta classe-média, torcedores com mais de 30 anos e turistas.
Exclui-se o antigo torcedor trabalhador de outros tempos, de baixo poder aquisitivo, que lotou estádios e garantiu por décadas a renda dos clubes. Segundo a ideologia do “futebol-negócio”, a ele restará apenas, para acompanhar seu clube querido, o boteco da esquina.
Mas, como evitar esses “indesejados” sem que isso gere grandes discussões? Fácil: colocando em cena um bode expiatório.
Diante da ofensiva dos partidários do futebol-negócio,
lideranças de torcidas poderiam exercer papel
de resistência – mas se omitem
Pode ser até que houvesse boas intenções, por parte dos idealizadores das primeiras medidas contra a violência nos estádios brasileiros. Algumas delas são inclusive defendidas por representantes de setores progressistas da sociedade, que não compram cegamente a velha ideologia da vigilância e punição.
O problema é que, aos poucos, o “combate à violência” tornou-se apenas mais um engodo na carta de justificativas de quem pretende consolidar o futebol-negócio no Brasil. Não é de hoje que esse argumento é usado de forma oportunista.
As bandeiras já foram proibidas em São Paulo em 1994, no vácuo do confronto entre palmeirenses e sampaulinos no Pacaembu, num jogo de juniores. O episódio foi marcado pela displicência dos órgãos responsáveis, que permitiram um jogo entre torcidas rivais num estádio em reforma, com materiais de construção expostos e o acesso ao gramado desprotegido.
As bebidas alcoólicas foram vetadas em 2009, novamente sob o argumento de que contribuíam com a violência. Quem frequenta estádios sabe que não faz o menor sentido. Mas o mais grotesco é que hoje, quando o tema volta a ser debatido, é em nome do “direito à comercialização” das marcas patrocinadoras da Copa – não da liberdade individual do torcedor, que não está autorizado a levar sua cervejinha para o estádio.
A Mancha Alviverde já mudou de nome uma vez, e provavelmente vai mudar de novo. A torcida Gaviões da Fiel é um instrumento político do atual grupo dirigente do Corinthians. Será muito difícil mantê-la proibida por muito tempo. Da mesma forma que a proibição de adereços alusivos às torcidas não muda nada. Ou só piora: as torcidas organizadas estarão ainda mais presentes nos estádios – e agora, não identificadas.
A proibição, como se viu, é hipócrita e interesseira. Mas vale, diante da ofensiva dos partidários do futebol-negócio, chamar atenção para o papel que as lideranças de torcidas organizadas poderiam exercer – mas se omitem. Mesmo com os diversos alertas lançados nos últimos anos, elas muito pouco fizeram para impedir as medidas coercitivas.
Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, e num momento decisivo para definição dos rumos do futebol no país, elas não agem diante da mercantilização. No máximo, adotam as respeitáveis, mas pouco convincentes, iniciativas de criação de “Grupos de Ação Social”.
Os órgãos punitivos tampouco se dão ao trabalho de investigar ou apontar quem financia as torcidas organizadas. Já se sabe há anos que diversos cartolas injetam recursos materiais e as usam como instrumento de promoção política pessoal, dentro e fora dos estádios.
É responsabilidade crucial dos integrantes mais sérios das torcidas – aqueles que pensam na magia do jogo e nos direitos do torcedor – trazer uma nova “ideologia” a estes grupos. Transformá-las, para garantir que estejam do lado do torcedor na batalha contra a mercantilização do esporte.

*Irlan Simões
 é estudante de Comunicação Social e torcedor do Esporte Clube Vitória. Atua no Movimento Somos Mais Vitória, na Associação Nacional dos Torcedores, na Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social e acha que o futebol deve ser jogador pela ala esquerda.