Confira abaixo:
Piadas racistas reforçam padrão colonial, explica pesquisador
Personagem Adelaide do programa Zorra Total. (Foto: reprodução)
A personagem Adelaide está colocada dentro dos marcos do
passado. Havia uma leitura nas piadas de que os negros eram pobres,
desdentados e feios. Adelaide tem o nariz e os lábios exageradamente
alargados e o cabelo despenteado, em um clichê, que, no final, a compara
a um gorila”
Portal Terra
Piadas sobre negros ainda são usadas para desqualificar e
marginalizar essa parcela da população, critica o professor da
Universidade Estadual Paulista (Unesp) Dagoberto José da Fonseca, que
pesquisa o tema desde a década de 1980. “Esse tipo de piada, de
brincadeira, que não é nada inocente, tem o objetivo de rebaixar, de
inferiorizar, de desqualificar o negro, de mostrá-lo como um animal,
incompetente ou estigmatizar uma situação de pobreza pela qual passa boa
parte dessa população.”
Doutor em ciência sociais, ele começou a pesquisar o tema depois de
ouvir de um amigo uma piada racista ainda na faculdade. A anedota deu
origem a uma tese de mestrado que, engavetada desde então, foi resumida e
será publicada no livro Você Conhece Aquela? A Piada, o Riso e o
Racismo à Brasileira, com previsão de lançamento em dezembro.
Em 133 páginas, o professor da Faculdade de Ciências e Letras da
Unesp reúne piadas em que os protagonistas são negros e aparecem como
“vadios, malandros, ladrões”. Em algumas dessas anedotas são comparados a
doenças degenerativas, como câncer, ou têm características físicas,
como o nariz e a boca, exageradas, reforçando estereótipos.
É o caso da personagem Adelaide, do programa Zorra Total, da TV
Globo. No quadro, ela é uma mulher negra, pobre, sem dentes, que se
refere aos cabelos da própria filha como “palha de aço”. As aparições da
personagem estão sob análise no Ministério Público do Rio de Janeiro,
que vai avaliar se há racismo no programa, a pedido da Secretaria de
Igualdade Racial (Seppir).
“A personagem Adelaide está colocada dentro dos marcos do passado.
Havia uma leitura nas piadas de que os negros eram pobres, desdentados e
feios. Ela a personagem não rompe com o passado, como Mussum, Grande
Otelo e Chocolate. Adelaide tem o nariz e os lábios exageradamente
alargados e o cabelo despenteado, em um clichê, que, no final, a compara
a um gorila”, criticou.
Sobre o tema da sexualidade, em um dos quatro capítulos da obra,
Fonseca também critica o mito da potência sexual, no caso dos homens, ou
de lascívia, no caso das mulheres. Segundo o professor, essas ideias
surgem na colonização tanto no Brasil quanto na África e refletem
teorias de um momento histórico em que o negro era tido como inferior.
“Quando a gente pensa em um negro brutamonte, está associando o negro
a um tarado, a um cavalo, a um touro, ou seja, voltamos para a questão
da animalização”, ressaltou. ”Do outro lado, quando se remete à mulher
negra, há ideia de lascividade, de promiscuidade. Tudo vinculado ao
processo colonial, em que o dono do corpo era quem escravizava”,
acrescentou.
Para o professor, por trás das piadas racistas há uma intenção de
buscar a “padronização” do corpo, da beleza, por meio da valorização de
um “ideal branco”, o que tem impactos negativos, especialmente, entre as
crianças negras. A tendência, explica o pesquisador, é que elas se
sintam inferiores e tenham mais dificuldade para aprender.
Em relação à personagem Adelaide, a Central Globo de Comunicação
informou que o humorístico “é notadamente uma obra de ficção, cuja
criação artística está amparada na liberdade de expressão”. A nota
acrescenta ainda que a personagem foi inspirada na avó de seu intérprete
e criador, o ator Rodrigo Sant’anna.
http://africas.com.br/portal/piadas-racistas-reforcam-padrao-colonial-explica-pesquisador/
Nenhum comentário:
Postar um comentário